sábado, 1 de outubro de 2011

Talvez numa próxima vez

O trem já vai partir...os ponteiros do relógio já não me causam pressa. Fim de noite. Mal acomodado no banco do trem, olho pela janela e vejo ao longe, faróis. Me distraio com as luzes que passam rápido, e arrisco fechar os olhos pra desenhar qualquer coisa em minha mente. Lembro dos meus projetos, rabisco meus sonhos por alguns segundos, e lamento em silêncio meus medos, frustrações.
O maquinista anuncia a próxima estação, enquanto rostos confusos adentram o vagão, até então vazio. Ao redor, alguns homens discutem a última partida de seus times do coração, e gargalhadas femininas podem se ouvir ao longe.
Penso em ti. E na última vez que te procurei, aflito com meus problemas. E depois te abandonei, assim que tive meu problema resolvido. Penso no seu olhar de Pai, me esperando pra conversar, ou nem que seja pra dividir esse meu silêncio. E me vejo virando as costas, carregando meu egoísmo, disfarçando uma possível satisfação.
Carregando meu orgulho como um troféu barato, esquecendo das tuas promessas, prestes a tropeçar mais uma vez e lhe implorar socorro.
As estações se passam rápido até demais.
Lá fora, começa a chover. A água escorre pelo vidro, e penso, logo estarei em casa. Penso em quem me espera, minha família. Gostaria também que o Senhor os guardasse, imagino. Penso em todas as pessoas que são realmente importantes pra mim. Sinto um súbito conforto.
Encostado à porta, um senhor de olhos castanhos e cabelos brancos, se preparava pra descer na próxima estação. Usava um casaco de veludo marrom, tinha as mãos pequenas e enrugadas, e um sorriso quase que escondido, querendo surgir no rosto. Carregava uma bíblia nas mãos.
Aquele homem me fez lembrar de muitos anos atrás Pai. Quando eu, ainda muito garoto, adentrei sua casa, e conheci Seu nome. Quando eu, estendi as mãos aos céus e te declarei Senhor da minha vida.
Descobri que todas as minhas decisões, por mais sóbrias que sejam, não são nada sem teu olhar, sem tua voz. Descobri que meus dias mais difíceis podem ser aliviados pelo teu abraço, Jesus.
De nada valem as supostas medalhas, eu sei.
Mas me sinto melhor quando penso, que por mais que me persigam, e tentem me rotular. Por mais que julguem, antes mesmo de me amar, por mais que me esqueçam, e até tentem me ver sofrer...eu tenho sempre um refúgio onde eu posso descansar.
O trem chega ao seu destino, acho que tenho que ir.
A chuva parece querer cessar, a noite insinua um silêncio improvável.
Pessoas apressadas por todos os lados, se esbarram, se encontram, se despedem.
Parado no meio da estação, estático, observo tudo ao redor.
Uma vontade de te pedir perdão explode por dentro.
Uma lágrima escapa, mas eu a ignoro.
Desço as escadas, rumo ao meu suposto lar.
Talvez numa próxima vez eu consiga...
O trem já vai partir.




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